Autor: Eduarda
Classificação: 14+
Classificação: 14+
Seu coração batia rápido, acelerado como sua respiração, um frio passando por sua espinha e suas mãos – encharcadas de suor e um liquido vermelho, quente e denso. Era sangue.
Fechou os últimos botões de seu sobretudo, escondendo sua blusa manchada de sangue. No seu bolso, a arma de metal pesava toneladas. Fechou os olhos e pôs-se a deslizar na parede, sentando no meio-fio. Tentou se acalmar respirando lentamente, sentindo o cheiro salgado do mar das docas invadir seu corpo. O mar lhe dava uma sensação de paz, e logo, logo, seu coração não estava martelando em seu peito.
Lembrava-se do que havia acontecido; tudo parecia ser como um filme passando por detrás de suas pálpebras. Joaquim fechou os olhos e as memórias vieram em sua cabeça, vividas e perturbadoras.
Estava sentado em uma poltrona em frente a uma lareira. Olhava para o relógio, impaciente, e depois para a porta, ansioso. Esperava, esperava, esperava; podia ouvir cada rangido daquela casa e o pêndulo do relógio escoava em todos os cantos, o “tic... tac...” repetia-se eternamente pelo ar. Uma vez ou outra tirava o revolver do bolso e o examinava, conferindo se as balas estavam ali, e voltava a guarda-lo.
Finalmente, ouviu passos vindos do assoalho do corredor, e logo a porta abriu, rangente. Uma mulher alta, loira de cabelos que lhe caiam nas costas de maneira bagunçada e de intensos olhos azuis apareceu, rindo e beijando um homem duas vezes maior que Joaquim, ombros largos e queixo protuberante. Ora, quem diria que sua esposa estaria cometendo adultério com o amigo de infância do homem?
Joaquim pigarreou, anunciando a sua presença no recinto. Pareciam tê-lo notado; os dois pararam abruptamente quando viram que Joaquim encontrava-se ali, com um sorriso estranho no rosto.
-Joaquim...? - disse sua mulher, com a voz ofegante.
“Sua mulher e seu melhor amigo... Sua mulher e seu melhor amigo...”, pensava constantemente. Sentia uma vontade de rir, rir de si mesmo por ser bobo ao pensar que os dois eram fiéis a ele.
-Me desculpe... Foi algo que aconteceu, não era algo que queríamos... - seu amigo balbuciava, tropeçando em palavras.
Sem pensar e sem dar explicações, sacou o revolver e atirou nos dois, abafando o barulho ensurdecedor com a almofada. Os dois corpos caíram sem vida no chão com um baque surdo, com os olhos vidrados e assustados, os lábios entreabertos pelo grito silencioso que nunca saiu de suas bocas.
Não se importava que tinha acabado de cometer dois homicídios. Nada mais lhe importava – tudo que tinha significado era seu amor pela sua mulher e por seu melhor amigo, mas agora Joaquim soube que isso também fora insignificante; era tudo apenas uma farsa, uma enorme peça de teatro.
Foi até o canto da sala, cantarolando a música da primeira dança dos noivos em seu casamento, saltando pelos dois corpos no chão como se fossem meros objetos. Chegou até o corredor, onde havia deixado uma garrafa de querosene, e a trouxe até a sala. Espalhou querosene por todo lado, fazendo questão de encharcar os dois corpos naquele liquido. Assim que o galão já estava vazio e a música havia acabado, jogou o recipiente para o lado e dirigiu-se até sua mulher – quer dizer, ex-mulher – e quis tirar-lhe a aliança. Não conseguiu.
-Sem pressa, sem pressa... - sussurrava para si mesmo - Não tenho pressa...
Voltava a cantarolar a música. Como não conseguia, pegou uma faca e cortou o dedo anelar de sua mão, retirando a aliança de seu dedo e colocando-a no bolso. Jogou o pedaço de seu dedo no chão, acabando por sujar sua blusa de sangue. Deu de ombros e levantou-se, olhando ao redor. Algumas faíscas jorravam para fora da lareira, e pouco a pouco, foram queimando umas fotos largadas no chão; o fogo aumentava de uma forma ameaçadora, criando rastros e labirintos por todos os lados.
Joaquim não se importou que estava pondo fogo na própria casa. Saiu de lá, sem antes pegar o guarda-chuva por causa da chuva que começava a cair. Caminhou por um tempo, e logo viu a casa inteira começar a sucumbir pelo fogo que aumentava. Os vizinhos acordaram, assustados, berravam freneticamente, corriam pelo telefone para chamar os bombeiros ou corriam pela rua; mas ninguém parecia notar numa figura que andava meio apressado e meio devagar, cantarolando uma melodia dos Beatles no meio de toda aquela berraria.
Agora, sentado no meio fio perto das docas, Joaquim pegou o anel ensangüentado no bolso e viu este reluzir na fraca luz vinda do poste. Sorriu, e quem ria por ultimo ria melhor. Jogou o anel no mar, esperando que este fosse levado embora – assim como o amor e a vida de sua esposa.
Fechou os últimos botões de seu sobretudo, escondendo sua blusa manchada de sangue. No seu bolso, a arma de metal pesava toneladas. Fechou os olhos e pôs-se a deslizar na parede, sentando no meio-fio. Tentou se acalmar respirando lentamente, sentindo o cheiro salgado do mar das docas invadir seu corpo. O mar lhe dava uma sensação de paz, e logo, logo, seu coração não estava martelando em seu peito.
Lembrava-se do que havia acontecido; tudo parecia ser como um filme passando por detrás de suas pálpebras. Joaquim fechou os olhos e as memórias vieram em sua cabeça, vividas e perturbadoras.
Estava sentado em uma poltrona em frente a uma lareira. Olhava para o relógio, impaciente, e depois para a porta, ansioso. Esperava, esperava, esperava; podia ouvir cada rangido daquela casa e o pêndulo do relógio escoava em todos os cantos, o “tic... tac...” repetia-se eternamente pelo ar. Uma vez ou outra tirava o revolver do bolso e o examinava, conferindo se as balas estavam ali, e voltava a guarda-lo.
Finalmente, ouviu passos vindos do assoalho do corredor, e logo a porta abriu, rangente. Uma mulher alta, loira de cabelos que lhe caiam nas costas de maneira bagunçada e de intensos olhos azuis apareceu, rindo e beijando um homem duas vezes maior que Joaquim, ombros largos e queixo protuberante. Ora, quem diria que sua esposa estaria cometendo adultério com o amigo de infância do homem?
Joaquim pigarreou, anunciando a sua presença no recinto. Pareciam tê-lo notado; os dois pararam abruptamente quando viram que Joaquim encontrava-se ali, com um sorriso estranho no rosto.
-Joaquim...? - disse sua mulher, com a voz ofegante.
“Sua mulher e seu melhor amigo... Sua mulher e seu melhor amigo...”, pensava constantemente. Sentia uma vontade de rir, rir de si mesmo por ser bobo ao pensar que os dois eram fiéis a ele.
-Me desculpe... Foi algo que aconteceu, não era algo que queríamos... - seu amigo balbuciava, tropeçando em palavras.
Sem pensar e sem dar explicações, sacou o revolver e atirou nos dois, abafando o barulho ensurdecedor com a almofada. Os dois corpos caíram sem vida no chão com um baque surdo, com os olhos vidrados e assustados, os lábios entreabertos pelo grito silencioso que nunca saiu de suas bocas.
Não se importava que tinha acabado de cometer dois homicídios. Nada mais lhe importava – tudo que tinha significado era seu amor pela sua mulher e por seu melhor amigo, mas agora Joaquim soube que isso também fora insignificante; era tudo apenas uma farsa, uma enorme peça de teatro.
Foi até o canto da sala, cantarolando a música da primeira dança dos noivos em seu casamento, saltando pelos dois corpos no chão como se fossem meros objetos. Chegou até o corredor, onde havia deixado uma garrafa de querosene, e a trouxe até a sala. Espalhou querosene por todo lado, fazendo questão de encharcar os dois corpos naquele liquido. Assim que o galão já estava vazio e a música havia acabado, jogou o recipiente para o lado e dirigiu-se até sua mulher – quer dizer, ex-mulher – e quis tirar-lhe a aliança. Não conseguiu.
-Sem pressa, sem pressa... - sussurrava para si mesmo - Não tenho pressa...
Voltava a cantarolar a música. Como não conseguia, pegou uma faca e cortou o dedo anelar de sua mão, retirando a aliança de seu dedo e colocando-a no bolso. Jogou o pedaço de seu dedo no chão, acabando por sujar sua blusa de sangue. Deu de ombros e levantou-se, olhando ao redor. Algumas faíscas jorravam para fora da lareira, e pouco a pouco, foram queimando umas fotos largadas no chão; o fogo aumentava de uma forma ameaçadora, criando rastros e labirintos por todos os lados.
Joaquim não se importou que estava pondo fogo na própria casa. Saiu de lá, sem antes pegar o guarda-chuva por causa da chuva que começava a cair. Caminhou por um tempo, e logo viu a casa inteira começar a sucumbir pelo fogo que aumentava. Os vizinhos acordaram, assustados, berravam freneticamente, corriam pelo telefone para chamar os bombeiros ou corriam pela rua; mas ninguém parecia notar numa figura que andava meio apressado e meio devagar, cantarolando uma melodia dos Beatles no meio de toda aquela berraria.
Agora, sentado no meio fio perto das docas, Joaquim pegou o anel ensangüentado no bolso e viu este reluzir na fraca luz vinda do poste. Sorriu, e quem ria por ultimo ria melhor. Jogou o anel no mar, esperando que este fosse levado embora – assim como o amor e a vida de sua esposa.
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